A VOCAÇÃO DO GIGANTE TAPAJÓS

 

 

"Em 50 anos de vida, nunca tinha visto o Tapajós seco do jeito que está. Eu acompanhei lagos que estão secando, uma imensidão de peixes que morreram e estão morrendo. Fico me perguntando: como é que nós (comunidades locais) vamos viver se acabarem esses peixes? A vida do interior depende do rio e da floresta."

O relato de Vitor Fernandes, morador da Floresta Nacional do Tapajós, refresca a memória para a realidade dura vivida pelos habitantes da região em 2023: seca histórica e ar tomado por fumaça de queimadas. Um dos fatores que soma para esse cenário, Vitor também sabe elencar. "O próprio homem tem contribuído para isso. Se a gente for olhar aqui a margem da BR-163, só tem floresta do lado da Flona (Floresta Nacional), na margem esquerda você não vê floresta."

Trabalhar pela conservação da Amazônia e o bem-viver de suas populações, faz parte das ações da Conservação Internacional. Desmatar os entornos do rio Tapajós é ir contra a vocação natural da região - a bioeconomia: manejo florestal, extração de óleos de andiroba e copaíba, extração de látex, biojóias, móveis artesanais, produção de polpas, licores, mel, açaí, criação de peixes, turismo de base comunitária. As possibilidades são inúmeras. Fortalecer a bioeconomia é conservar a floresta. Ao gerar alternativas de renda sustentáveis e dignas para pessoas que vivem na Amazônia, essas populações se tornam aliadas da luta pela proteção da natureza.

Com financiamento do Fundo Amazônia, a CI-Brasil desenvolveu na região o projeto Tapajós Sustentável e Resiliente, voltado para o fomento das cadeias produtivas tradicionais madeireiras e não-madeireiras e da governança de três Unidades de Conservação, as Florestas Nacionais (Flona) do Tapajós, Trairão e Itaituba 1.

 

© CONSERVAÇÃO INTERNACIONAL / FLAVIO FORNER
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O resultado?

Com apoio da CI-Brasil:

  • Foi construída a primeira unidade de beneficiamento madeireiro 100% comunitária da Amazônia e a promovida a capacitação dos cooperados para atuação no empreendimento
  • Construídas três oficinas para confecção de móveis artesanais de madeira caída
  • Na cadeia de produtos não madeireiros, foi feito o fortalecimento das cadeias produtivas por meio da construção de 2 unidades de beneficiamento de óleo de andiroba, 1 centro de produção, exposição e venda de biojóias, 1 unidade de produção de polpa de frutas e 1 unidade de beneficiamento de açaí
  • Foi realizada também a compra e entrega de equipamentos para essas cadeias produtivas e a capacitações para os cooperados em diversas áreas, entre elas a capacitação de mais de 500 comunitários em cooperativismo e associativismo

 

Um milhão de hectares conservados e mais de mil famílias beneficiadas

 

 

CONHEÇA MAIS SOBRE ALGUMAS DESSAS HISTÓRIAS

 

© CONSERVAÇÃO INTERNACIONAL / FLAVIO FORNER
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Primeira unidade de beneficiamento madeireiro comunitária da Amazônia

Extrair madeira de forma sustentável requer planejamento, experiência, atenção e muito estudo. A Cooperativa Mista da Flona do Tapajós (COOMFLONA) é referência no assunto. Antes de derrubar uma árvore são necessárias 33 etapas, distribuídas nas fases de pré-colheita, atividades exploratórias e pós-colheita. “Aqui [na Floresta Nacional do Tapajós] está, talvez, o exemplo do melhor manejo florestal comunitário do Brasil”, afirma José Risonei da Silva, Analista Ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e gestor da Flona Tapajós, parceiro da CI-Brasil no desenvolvimento do projeto.

A madeira extraída era vendida em toras, sem o beneficiamento, e a partir da construção da unidade de beneficiamento poderá sem vendida com valor agregado, gerando mais lucro para a cooperativa. “Isso era um sonho da comunidade que hoje está virando realidade”, afirma Marquizanor dos Santos, presidente da Coomflona.

 


 

© CONSERVAÇÃO INTERNACIONAL / ARQUIVO
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Artesanato de madeira caída

Manoel de Souza, conhecido como "seu Faca", é um artesão habilidoso. Andando no meio da Floresta Nacional do Tapajós ele vê nas toras de madeira caídas jacarés, peixes, bichos-preguiça, bancos, mesas e utensílios domésticos. Com apoio da CI-Brasil, além de coordenar o trabalho em uma movelaria construída pelo projeto, Faca assumiu a missão de ensinar sua arte às novas gerações.

“Hoje colaboro com esse trabalho da CI-Brasil, trabalhei contratado para dar capacitação nesses projetos. Aqui pode se considerar um projeto de desmatamento zero. Nós não estamos vendendo uma mesa, um banco, estamos vendendo uma história e ajudando na conservação também, [diminuindo] o impacto na floresta, onde vive esse povo. Eu não conseguiria estar ensinando se não tivesse o apoio de ferramentas, materiais para fazer isso. Eu tenho esperança de que daqui a 30, 40 anos, ainda terá alguém vivendo de produtos da floresta”, conta.

 


 

© CONSERVAÇÃO INTERNACIONAL / ARQUIVO
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Produção de polpa de frutas

No município do Trairão a Associação dos Agricultores Familiares da Batata (ASAFAB) viu no projeto da CI-Brasil a oportunidade de resolver duas necessidades, a construção da sede da organização e de um local para a produção e comercialização de poupas de frutas, que são abundantes na região.

“Desde que entrei na associação, a minha vontade sempre foi ter um espaço destinado a ela. A gente usava o barracão da comunidade, que é da igreja, mas não tinha um espaço totalmente da associação. Para a gente, hoje é uma felicidade grande, no meio de 32 associações, sermos a primeira a conseguir. Só temos muito a agradecer a parceria da CI-Brasil. No projeto também está a mini agroindústria, então, daqui um tempo, vamos produzir e comercializar poupa de frutas na nossa sede. Além de ajudar na alimentação isso também vai gerar uma renda para essas famílias. Hoje somos 97 associados”, conta Rosangela Pereira, agricultora e presidente ASAFAB.

 

 


Os ecossistemas com alta biodiversidade e carbono “irrecuperável”, aquele que é rapidamente liberado ao ser perturbado e que não se recupera por décadas se for perdido, são de alta prioridade para conservação.