Reservas de Surf são áreas de valor ambiental, cultural e esportivo propostas por comunidades locais, reconhecidas por sua importância para o surf e para os ecossistemas costeiros. Ou seja, a reservas de surf são santuários do esporte e da natureza e funcionam como um modelo de gestão integrada da zona costeira, promovendo o equilíbrio entre uso sustentável, conservação ambiental e identidade cultural.
SURF, TERRITÓRIO E CONSERVAÇÃO
Imagine um território onde a natureza cria as condições ideais para ondas perfeitas: recifes e corais saudáveis que moldam as quebras, manguezais e restingas que equilibram o ecossistema costeiro e garantem a saúde do oceano. As reservas de surf ajudam a proteger esses ambientes e ondas icônicas. Ao unir conservação marinho-costeira com valorização cultural e geração de renda local, essas áreas demonstram como proteger ondas é também cuidar de territórios e modos de vida sustentáveis.
QUAL A RELAÇÃO COM CLIMA E BIODIVERSIDADE?
Um estudo realizado por cientistas da Conservação Internacional, da Oregon State University, da Save The Waves Coalition e de outros parceiros, analisou 4,8 mil ecossistemas de surf, em 113 país, e chegaram a conclusão que picos de surf e suas regiões de entorno armazenam 88 milhões de toneladas de carbono potencialmente aquecedor do planeta, o equivalente à emissão anual de 77 milhões de carros que usam combustíveis fósseis.
“Isso acontece porque manguezais, florestas costeiras e restingas concentrarem uma grande diversidade de espécies e atuam como importantes sumidouros de carbono, ou seja, eles absorvem e armazenam grandes quantidades de carbono da atmosfera”. Já recifes e corais cumprem um papel fundamental na proteção costeira e na manutenção da biodiversidade marinha,” diz Renan Alves, Gerente de Projetos da Conservação Internacional (CI-Brasil).
BRASIL NA CRISTA DA ONDA
O Brasil é destaque no estudo. Quando o assunto é manguezais e áreas de surf, 10,9% do carbono armazenado nos mangues está localizado aqui. É a maior quantidade entre os 113 países avaliados pela pesquisa.
Isso quer dizer na prática, que a proteção de picos de surf ajuda na conservação da biodiversidade e na diminuição da concentração de gases do efeito estufa, grande adversário no enfrentamento à crise do clima.
O SURF COMO FORÇA DE MOBILIZAÇÃO
Com mais de 30 milhões de surfistas no mundo, o surf não é só um esporte: é um movimento global. Por isso, as comunidades de surf estão entre os maiores defensores do oceano. Ao conservar, restaurar e promover a gestão sustentável dos ambientes, as reservas de surf desempenham um papel importante na mitigação dos impactos das mudanças climáticas além de promover o engajamento comunitário e impactar positivamente a economia local, por exemplo, pelo turismo regenerativo.
O PROGRAMA BRASILEIRO DE RESERVAS DE SURF
No Brasil, a única Reserva Mundial de Surf oficialmente reconhecida é a Guarda do Embaú, em Santa Catarina, a nona do mundo. Em 2022, a Conservação Internacional, passou a atuar como parceira estratégica do Programa Brasileiro de Reservas de Surf, que tem como missão criar Reservas Nacionais de Surf promotoras de sustentabilidade, engajamento comunitário, economia local e visibilidade da cultura do surf no litoral brasileiro.
A parceria une a expertise da CI-Brasil na criação de áreas protegidas marinhas e a experiência do Instituto APRENDER Ecologia, idealizador do programa, em aliar o esporte à conservação, protegendo ondas icônicas e ecossistemas.
COMO SE CRIA UMA RESERVA NACIONAL DE SURF?
Em 2024, o Programa Brasileiro de Reservas de Surf abriu chamada pública para eleger a primeira Reserva Nacional de Surf. Para ser nomeada a praia precisava ser inscrita pela comunidade local e cumprir com quatro critérios objetivos:
CONSISTÊNCIA DAS ONDAS, visando qualidade e relevância das ondas.
CARACTERÍSTICAS SOCIOECOLÓGICAS do ecossistema de surf no local.
CULTURA, história e desenvolvimento do surf no local.
COMUNIDADE ENGAJADA, capacidade de governança e sustentabilidade da Reserva de Surf por meio de um Comitê de Gestão Local, organizado pela própria comunidade.
Por meio da avaliação do comitê técnico-científico do programa, formado por especialistas em áreas relacionadas a conservação de ecossistemas costeiros e marinhos, 4 novas reservas nacionais de surf foram nomeadas: Moçambique (SC), Regência (ES), Praia do Francês (AL) e Itamambuca (SP).
Durante o primeiro semestre de 2025, oficinas de planejamento e celebrações estão sendo realizadas para criar o plano de gestão sustentável para as novas reservas.
SOBRE O INSTITUTO APRENDER ECOLOGIA
O Instituto APRENDER Ecologia é uma associação civil de caráter ecológico, pacifista, educativo, esportivo, cultural e científico fundada no ano 2000 e sediada em Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Trabalha em redes de cooperação e está alinhada aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e à Década do Oceano. É pioneira no trabalho de integrar o surf às áreas protegidas.