Conservação Internacional é finalista do maior evento global de geotecnologias com estratégia inovadora de restauração no Cerrado

julho 18, 2025

Modelo de uso da terra orientado por ciência e tecnologia conquista reconhecimento internacional na Esri User Conference. Além do projeto finalista, a CI-Brasil apresentou outros cinco pôsteres na conferência e identificou tendências importantes do setor.

Equipe da Conservação Internacional (CI-Brasil) responsável pelas apresentações na Esri User Conference 2025. Foto: Divulgação.

San Diego – Estados Unidos, 18 de julho de 2025 - A Conservação Internacional (CI-Brasil) participou da Esri User Conference 2025, o maior evento global dedicado a tecnologias de geoinformação, com seis pôsteres sobre Soluções Baseadas na Natureza (SBN) inovadoras para enfrentar as crises do clima e da biodiversidade. Entre os destaques da participação brasileira, o pôster “The Reforestation Strategy in Brazil” foi finalista na categoria Envisioning the Future, reconhecendo a contribuição visionária para transformar o uso da terra a partir de modelos de negócios sustentáveis baseados em ciência.  

O material finalista apresenta o modelo desenvolvido em parceria com o BTG Pactual Timberland Investment Group (TIG) para escalar a restauração de paisagens. A iniciativa busca mobilizar US$ 1 bilhão para recuperar 275 mil hectares de terras degradadas no Brasil e Uruguai, com potencial de expansão para outros potenciais países da América do Sul. Para isso, adota um modelo pioneiro: metade das áreas do projeto é dedicada à restauração e conservação de espécies nativas; enquanto outra metade à silvicultura de baixo impacto com eucaliptos certificados pelo Forest Stewardship Council (FSC) para produção de madeira sustentável.  

A CI-Brasil atua como conselheira de impacto da estratégia, garantindo que todas as decisões estejam ancoradas em ciência robusta e orientadas por critérios ambientais e legais, além do incentivo a práticas agrícolas de baixo carbono. Com o apoio de Sistemas de Informações Geográficas (SIG), a organização desenvolveu uma metodologia para medir a conectividade entre habitats baseada nos indicadores de desempenho do projeto. 

“Um dos nossos desafios foi traduzir para o ambiente do SIG indicadores que nos ajudem a medir o progresso em direção aos compromissos do projeto, como a meta de garantir o dobro de habitat natural conectado para cada hectare restaurado. Para isso, foi preciso integrar diversas camadas ambientais, sociais e operacionais, além da articular métodos e tecnologias para conectar os compromissos à geotecnologia. Mais do que uma solução técnica, foi um passo importante para permitir o monitoramento consistente de metas complexas e orientar uma gestão integrada da paisagem eficiente - abordagem essencial para fortalecer a biodiversidade, aumentar a resiliência dos ecossistemas e promover o equilíbrio ambiental a longo prazo”, afirma Maira Matias, Coordenadora de Projetos da CI-Brasil. 

O projeto combina restauração ecológica, geração de créditos de carbono e produção de madeira certificada como modelo de financiamento para as ações. Em 2024, o TIG firmou acordos com Microsoft e Meta para aquisição de até 11,9 milhões de créditos de remoção de carbono e já mobilizou mais de US$ 500 milhões em compromissos financeiros, sendo reconhecido com o Prêmio Investimento de Impacto do Ano em Finanças Ambientais. Modelos como esse são essenciais para destravar fluxos financeiros para consolidar as SBN, que hoje recebem menos de 3% do financiamento climático global. 

Saiba mais sobre o pôster finalista: https://mapgallery.esri.com/submission-detail/40367 

Soluções tecnológicas da CI-Brasil impulsionam as Soluções Baseadas na Natureza 

Além do projeto finalista, a CI-Brasil apresentou outras cinco soluções que reforçam como a inovação está ampliando o impacto das ações de conservação, produção sustentável e restauração em diferentes territórios do país. 

Uma das iniciativas em destaque foi a solução em desenvolvimento com a sustainacraft inc. para manejo florestal sustentável, que combina imagens de satélite com dados de campo para estimar o acúmulo de biomassa e calcular estoques de carbono em áreas sob restauração. Os resultados preliminares demonstraram que a metodologia tem potencial para detectar mudanças em curto prazo e calibrar modelos preditivos, tornando o monitoramento de grandes áreas em recuperação mais eficiente e acessível. 

As tecnologias geoespaciais vêm sendo aplicadas no monitoramento da biodiversidade na Terra Indígena Panará, no contexto do projeto com a HP Inc. Jovens indígenas foram capacitados pela equipe técnica da CI-Brasil no uso dos aplicativos da Esri, ampliando a capacidade local de registrar, analisar e comunicar dados sobre o território. Desde o início da iniciativa, já foram registradas mais de 270 ocorrências de fauna pela comunidade, o que fortalece a governança territorial e a gestão ambiental local em uma região sob intensa pressão de desmatamento. 

O projeto Paisagens Sustentáveis da Amazônia (ASL-Brasil) também foi exibido, iniciativa coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) com financiamento do Global Environment Facility (GEF) e implementação do Banco Mundial. Executado pela CI-Brasil em parceria com Funbio e FGV Europe, o projeto integra ações de conservação, restauração, regularização fundiária e valorização da sociobiodiversidade em quatro estados da Amazônia. O uso de geotecnologias tem sido central para subsidiar o planejamento territorial e viabilizar os resultados expressivos alcançados até então, como a promoção de práticas sustentáveis em 900 mil hectares de propriedades rurais, o apoio à concessão florestal em 1,4 milhão de hectares e à adaptação ambiental de 27 mil propriedades, além do beneficiamento de cerca de 3 mil pessoas. 

As atividades empregadas no Pará e Amapá também foram destacadas. Na região, a CI-Brasil usou geotecnologia para definir áreas prioritárias de intervenção com infraestrutura verde-cinza (IVC) - soluções híbridas que combinam ecossistemas naturais, como manguezais e recifes, com infraestrutura convencional para proteger comunidades costeiras vulneráveis. A partir de oficinas participativas foram identificadas 21 áreas de interesse, e a rodovia PA-458 foi selecionada para aplicação de um projeto-piloto com potencial de restaurar o fluxo hídrico e permitir a regeneração dos manguezais. A tomada de decisão foi apoiada pela ferramenta CBA (Triple Baseline Analysis), usada para avaliar custos, benefícios e impactos ambientais de diferentes alternativas. 

Por fim, também foi exposta a premiada CIERA, uma plataforma baseada em inteligência artificial (IA) em desenvolvimento com Microsoft, Threshold World, ESRI, University of Maryland e Utah State University. A ferramenta identifica áreas prioritárias para restauração com base em dados espaciais, políticas públicas e diretrizes técnico-científicas, e já despertou o interesse de governos e organizações privadas. Ainda em fase de aprimoramento, o sistema reúne informações dispersas em um único ambiente e oferece funcionalidades acessíveis para que diferentes perfis de usuários - de lideranças comunitárias a tomadores de decisão - possam consultar rapidamente dados detalhados e personalizados sobre onde realizar a restauração. 

A ampla presença da CI-Brasil na apresentação de pôsteres técnicos reforça o papel da organização como referência no desenvolvimento de soluções científicas e tecnológicas - protagonismo impulsionado pela Diretoria de Gestão do Conhecimento, liderada por Bruno Coutinho. 

Tendências para o futuro da conservação 

Durante a Esri User Conference 2025, a equipe da CI-Brasil acompanhou de perto uma série de inovações que devem transformar a forma como tecnologias são aplicadas à proteção da natureza.  

Um dos destaques da conferência foi a incorporação de inteligência artificial nos produtos da Esri. No ArcGIS, por exemplo, já é possível descrever em linguagem natural o tipo de análise espacial desejada e a própria plataforma processa os dados, gera documentação, modelos e scripts automáticos. O mesmo vale para os aplicativos de campo, que agora contam com funcionalidades similares. Essas soluções têm o potencial de reduzir significativamente o tempo entre coleta, análise e tomada de decisão, tornando o uso da geotecnologia ainda mais estratégico para ampliar a escala de iniciativas de conservação e restauração. 

Além disso, a conferência apresentou uma nova geração de soluções voltadas para visualização, análise e compartilhamento de dados espaciais. Produtos cada vez mais integrados entre si reúnem informações coletadas em campo e visualizadas em tempo real em diferentes plataformas. A diversidade de aplicações - adaptadas a perfis e linguagens distintas - mostra que o conhecimento produzido por técnicos pode chegar com mais rapidez e eficiência a tomadores de decisão, comunidades locais e sociedade. 

Essas inovações foram especialmente relevantes para a equipe, que viu oportunidades concretas para aprimorar as soluções apresentadas nos pôsteres do evento. No caso de projetos com povos indígenas, por exemplo, os lançamentos de ferramentas offline e a possibilidade de criar formulários customizados com traduções para idiomas nativos fortalecem iniciativas como a da Terra Indígena Panará. Já na agenda de restauração, a incorporação de IA nos produtos Esri associadas à nova integração com plataformas da Microsoft também deve acelerar o desenvolvimento da CIERA.  

No evento, Maria Martinez, Coordenadora Sênior de Projetos da CI-Brasil, destacou a relevância de acompanhar as transformações do setor: “Participar da Conferência foi muito importante para visualizar o que há de mais atual no mercado de geotecnologias e gerar ideias de como essas novas plataformas, produtos e ferramentas podem ser incorporadas para ampliar os resultados nos territórios onde atuamos”. 

Esri User Conference 2025 

Realizada anualmente em San Diego (EUA), a Esri User Conference reúne mais de 20 mil especialistas de todo o mundo para apresentar soluções inovadoras em geotecnologia aplicadas a temas como meio ambiente, cidades inteligentes, agricultura, segurança e mudanças climáticas. Mais do que uma vitrine tecnológica, o evento evidencia como o Sistema de Informações Geográficas (SIG) é importante para a implementação das Soluções Baseadas na Natureza (SBN).  

O SIG (ou GIS, na sigla em inglês) é uma tecnologia que transcende fronteiras ao integrar conhecimento, dados, análises e conteúdos. Ao revelar padrões e conexões antes invisíveis, o SIG fortalece a tomada de decisões informadas, fundamentais para promover mudanças positivas, práticas mais sustentáveis e resultados de maior impacto para as pessoas e a natureza. 

 

Contatos para imprensa

Inaê Brandão – Coordenadora de Comunicação
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