[CI-Brasil na RCAW] Conservação Internacional destaca formação e integração da base produtiva para ampliar a oferta de insumos em painel com atores da cadeia da restauração
agosto 27, 2025
Debate realizado na Rio Climate Action Week (RCAW) discutiu gargalos da cadeia de sementes e mudas no Brasil e apontou caminhos para estruturar o setor no país.
Painel ocorreu no contexto do evento “Restauração em escala para o cumprimento das NDCs: desafios e oportunidades de cooperação”. Foto: Conservação Internacional / Breno Valle.
Rio de Janeiro – Rio de Janeiro, 27 de agosto de 2025 – Dando sequência à programação da Rio Climate Action Week (RCAW), a Conservação Internacional (CI-Brasil) participou, nesta quarta-feira (27), do painel “Restauração ecológica no Brasil: da Semente ao Projeto – Encontro da Cadeia de Valor”, realizado na Ação da Cidadania. Organizado pelo Instituto Clima e Sociedade, Instituto Belterra e Nativas Brasil – Associação Brasileira dos Produtores de Sementes e Mudas Nativas, o encontro reuniu especialistas, representantes de viveiros e organizações da sociedade civil para discutir os gargalos e caminhos para estruturar uma base sólida de insumos capaz de sustentar a escala necessária para a restauração de paisagens no Brasil.
Apesar da estratégia ser uma das Soluções Baseadas na Natureza, conjunto de iniciativas que representam pelo menos 30% das ações necessárias para evitar os piores cenários climáticos, a cadeia de suprimentos ainda enfrenta barreiras para se consolidar e apoiar o cumprimento da meta nacional de restaurar 12 milhões de hectares, prevista no Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (PLANAVEG). O painel, ocorrido ao longo do evento “Restauração em escala para o cumprimento das NDCs: desafios e oportunidades de cooperação”, trouxe algumas dessas questões à tona.
Entre os desafios discutidos, destacou-se a instabilidade da demanda por insumos, como sementes e mudas. A imprevisibilidade de compra e ausência de definição precisa das espécies demandadas nos projetos de restauração prejudica o planejamento e a sustentabilidade econômica dos viveiros, que muitas vezes precisam diversificar suas atividades para além das mudas. Nesse contexto, foi ressaltada a necessidade de contratos antecipados e flexíveis, capazes de se ajustar às variáveis naturais de produção. A implementação do Código Florestal, que prevê a restauração de 21 milhões de hectares, também foi apontada como um catalizador para gerar demanda consistente e impulsionar a agenda.
Outro ponto levantado foi a urgência de organizar e profissionalizar o setor. A uniformização de boas práticas e padrões mínimos de qualidade, por exemplo, são importantes para um mercado regulado e confiável. Entretanto, Viviane Figueiredo, gerente de projetos da Amazônia da CI-Brasil, chamou atenção para o fato do financiamento em restauração ainda se concentrar no número de hectares plantados, sem contemplar o desenvolvimento da base produtiva:
“O estado do Pará, por exemplo, tem a meta de restaurar 5,6 milhões de hectares até 2030, o que corresponde à quase metade da meta nacional. No entanto, ainda enfrenta desafios como a escassez de mudas, a falta de mão de obra capacitada e a necessidade de maior articulação institucional nos territórios”, explicou Viviane. “Para que as metas sejam alcançadas, é fundamental investir em mais iniciativas que fortaleçam toda a cadeia da restauração. No próprio Pará, a CI-Brasil conduz um projeto voltado ao apoio da base produtiva, que contempla atividades como fortalecimento de infraestrutura para mudas e sementes e a capacitação de viveiristas, coletores e agentes de restauração, além da articulação desses parceiros no território. O objetivo é equilibrar oferta e demanda de forma estratégica, sólida e capaz de destravar recursos essenciais para a restauração”, completou.
A iniciativa mencionada inclui a criação de polos e redes estratégica de viveiros da Amazônia, com oferta de formações técnicas e tecnologias para ampliar a produção e a qualidade de mudas e sementes. Também prevê o desenvolvimento de uma plataforma digital para integrar os principais atores do setor e a promoção de encontros multissetoriais para aprimorar práticas e ampliar o engajamento com o tema.
Na sua fala, Viviane destacou ainda pontos de atenção para a restauração produtiva. O desenho de sistemas agroflorestais (SAFs) muitas vezes se limitam a duas ou três espécies em função da demanda do mercado, quando o ideal seria fomentar SAFs biodiversos, que conciliem geração de renda e restauração de qualidade. Para avançar nesse sentido, é fundamental sensibilizar os compradores e criar mecanismos que valorizem a diversidade de espécies, além de ampliar os investimentos em capacitação e colaboração no campo.
Além da representante da CI-Brasil, participaram da conversa Barbara Pellegrini, vice-presidente da Nativas Brasil e proprietária do Viveiro Muda Tudo, Eduardo Malta, especialista em restauração florestal do Instituto Socioambiental (ISA) e Redário, e Winston Fritsch, Conselheiro Emérito no Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI). A moderação foi realizada por Renato Ximenes de Melo, diretor institucional da Nativas Brasil e sócio da XiCa advogados.
O painel também discutiu o papel do mercado de carbono, apontado como receita acessória para a cadeia, mas insuficiente para sustentá-la sozinho. Reforçou-se a necessidade de recursos públicos e filantrópicos, bem como modelos de financiamento de longo prazo e a criação de mercados voltados aos produtos florestais nativos, para fornecer estabilidade ao setor. No final, rede e colaboração foram as palavras-chave apontadas como condições indispensáveis para impulsionar a cadeia.
Rio Climate Action Week 2025
Entre 23 e 29 de agosto acontece a Rio Climate Action Week (RCAW), iniciativa independente inspirada no modelo pioneiro de Londres realizada em apoio à Presidência Brasileira da COP30. A programação reúne parceiros locais, nacionais e internacionais em atividades e eventos distribuídos pela capital carioca para apresentar soluções climáticas e mobilizar comunidades.
Ao longo da RCAW, a CI-Brasil participou de discussões estratégicas para fortalecer a agenda das SBN às vésperas da COP30, que ocorrerá em novembro em Belém.
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