[CI-Brasil na SPCW] Painel destaca importância dos oceanos para adaptação e mitigação climática
agosto 6, 2025
Debate também ressaltou importância da proteção aos direitos e culturas das comunidades tradicionais, costeiras e marinhas do país

Programação do painel contou com três sessões de debates entre especialistas. Foto: Pedro Bernardes.
Quarta-feira, 06 de agosto, São Paulo (SP) - Durante o painel “Oceanos e Clima”, da São Paulo Climate Week, a Conservação Internacional (CI-Brasil) reforçou a urgência de integrar o oceano às políticas climáticas nacionais e internacionais como eixo estratégico de mitigação e adaptação climática, além de reforçar a importância da proteção das comunidades locais de regiões costeiras e marinhas.
O painel, realizado no Aya Earth em parceria entre CI-Brasil, Instituto APRENDER Ecologia e o Instituto Aya, abordou desafios e iniciativas em prol do oceano para enfrentamento da crise climática.
Além da participação da CI-Brasil, o evento contou com a presença de Laura Piatto, do Instituto de Cultura Oceânica (ICOA); Fernanda Carbonelli, do Instituto Conservação Costeira (ICC); Fernanda Muller e Diego Avarez, do Instituto APRENDER Ecologia; Alexandre Moreno, da Voice of The Oceans; Nathalie Gil, da Sea Shepherd Brasil e Cácia Moraes, da Ambition Loop. Também houve a participação remota de Marinez Scherer, enviada especial da COP-30 para Oceanos e de Ana Paula Prates, do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).
O evento, dividido em três sessões, foi transmitido ao vivo e pode ser conferido na íntegra no canal de Youtube da Aya Earth.
Representada por Nátali Piccolo, diretora do Programa Marinho e Costeiro da CI-Brasil, a organização apresentou uma visão e iniciativas de como as Soluções Baseadas na Natureza (SBNs) podem unir proteção ambiental e proteção aos direitos humanos e culturas de comunidades tradicionais, costeiras e marinhas do país.
OCEANO: ALIADO INVISÍVEL
Um tema central abordado pelos participantes do painel foi a subvalorização do oceano nas discussões climáticas globais, apesar de sua função vital na regulação do clima do planeta.
“Se a gente não tiver um oceano saudável, a gente não vai ter um planeta saudável”, declarou Marinez Scherer, enviada especial da COP-30 para os Oceanos. Já Nathalie Gil, diretora executiva da Sea Shepherd Brasil, reforçou que o oceano é “literalmente o nosso maior aliado”, ao lembrar que ele absorve cerca de 25% do CO₂ equivalente emitido pela atividade humana e 90% do excesso de calor gerado pelas emissões.
A ausência histórica do oceano nos acordos climáticos tem impactos diretos sobre comunidades costeiras e insulares, que sofrem desproporcionalmente os efeitos da crise mesmo contribuindo pouco para ela, reforçaram os participantes. “A gente paga o preço pelo que vocês fazem com o planeta”, citou Alexandre Moreno, da Voice of the Oceans, em referência à fala de uma habitante de ilhas do Pacífico.
Na primeira sessão do painel, Nátali evidenciou que proteger o oceano é proteger pessoas, modos de vida e territórios ameaçados pela crise climática. “A CI-Brasil atua com essas comunidades para garantir que políticas ambientais não apenas preservem o meio ambiente, mas também valorizem o conhecimento tradicional, fortaleçam a autonomia local e gerem renda de forma justa e sustentável”, comentou a diretora.
Com 35 anos de atuação no país, a organização implementa Soluções Baseadas na Natureza, ações que protegem, manejam de forma sustentável e restauram ecossistemas naturais ou produtivos, gerando benefícios para o clima, a biodiversidade e o bem-estar humano e contribuem diretamente para a mitigação das mudanças climáticas, aumentando a resiliência dos territórios e promovendo justiça social.
PELAS PESSOAS E PELO CLIMA
No Brasil, ressaltou Nátali no evento, mais de 500 mil famílias extrativistas vivem em áreas de manguezal, ecossistema de transição entre área terrestre e marítima de grande importância para a biodiversidade e para o clima.
Os manguezais armazenam até quatro vezes mais carbono que florestas tropicais, funcionam como barreiras naturais contra eventos extremos e garantem segurança alimentar a milhares de pessoas, ressaltou a diretora.
É onde entra o papel das unidades de conservação (UCs) de uso sustentável, que estabelecem medidas que conciliam proteção ambiental e desenvolvimento socioeconômico das populações que nele moram.
A CI-Brasil foi uma das organizações parceiras do MMA na criação da política pública estabelecida no ProManguezal, programa nacional voltado à conservação e uso sustentável dos manguezais, reconhecidos como infraestruturas naturais de carbono azul. “O que pode levar recursos de áreas urbanas para a conservação do manguezal”, explicou Natali.
Ainda, a diretora destacou a Futuri Brasil – Aliança pelo Turismo Regenerativo, iniciativa da CI-Brasil no Extremo Sul da Bahia, onde mais de 280 aliados constroem de forma autogerida um modelo de turismo que respeita o território, promove boas práticas e fortalece o protagonismo de povos indígenas e comunidades locais.
“É preciso que a conservação fale com o coração das pessoas, e isso passa por valorizar o que é vivido e transmitido nas comunidades”, afirmou a diretora. “Não dá para falar de futuro climático resiliente sem falar de quem vive no território”, afirmou.
Outra ação destacada foi a parceria da instituição junto ao Instituto APRENDER Ecologia no apoio do Programa Brasileiro de Reservas de Surf, que transforma a relação com o oceano a partir da cultura do esporte. O projeto Ondas da Conservação, criado pela Conservação Internacional e executado pela APRENDER, conecta surfistas, comunidades e áreas naturais em torno de objetivos comuns de educação e proteção ambiental por meio do apoio ao Fortalecimento do Programa Brasileiro de Reservas de Surf (PBRS).
A especialista destacou ainda a importância construção coletiva de salvaguardas para projetos de carbono azul. O Projeto Carbono Azul, da CI-Brasil, apresentará, na COP-30, diretrizes que propõem protocolos de autogestão, proteção contra o assédio a territórios tradicionais e divisão equitativa de benefícios, garantindo a integridade social e ambiental dos projetos.
Para Natali, o Brasil tem uma oportunidade histórica de liderar a inclusão do oceano nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) durante a COP-30, que será realizada em Belém em novembro deste ano, e com participação das pessoas. “O oceano e as pessoas já são parte da solução. O que falta é colocá-los no centro da decisão política, econômica e climática”, concluiu.
SÃO PAULO CLIMATE WEEK
A São Paulo Climate Week, que acontece até o dia 08 de agosto, reúne líderes, organizações, comunidades e cidadãos comprometidos com a construção de soluções climáticas para o Brasil e para o mundo. A programação inclui painéis, workshops, exposições, encontros culturais e experiências imersivas, organizados por uma rede diversa de parceiros que atuam em diferentes frentes da agenda climática.
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