COP30: Aumentar o financiamento para Amazônia é a chance histórica do Brasil para evitar o colapso climático global

julho 4, 2025

Sociedade civil entrega à Presidência da COP 30 recomendações para ampliar o financiamento em grande escala a soluções baseadas na natureza e evitar o ponto de não retorno da floresta 

É urgente um pacto global para mobilizar US$ 7 bilhões anuais para proteger a Amazônia, redirecionar subsídios e garantir financiamento direto para os Povos Indígenas e Comunidades Locais. 

Brasília (4 de julho, 2025) — Às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), que será realizada em novembro de 2025, em Belém (PA), organizações da sociedade civil, centros de pesquisa e lideranças locais e internacionais unem esforços para propor ao governo brasileiro um plano de ação capaz de atrair novos investimentos para a conservação, restauração e desenvolvimento sustentável da Amazônia. Ele está sendo entregue hoje (04/07) à Secretária Nacional de Mudança do Clima e Diretora Executiva da COP 30, Ana Toni. 

A conta é muito simples: se quisermos ter alguma chance de enfrentar a crise climática, mantendo a temperatura média global abaixo dos 2ºC, precisamos evitar que a Amazônia entre em colapso. Segundo cientistas, a perda de 50% a 70% da maior floresta tropical do mundo jogaria na atmosfera 300 bilhões de toneladas de carbono, inviabilizando o alcance da meta do Acordo de Paris. Não há tempo a perder, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), marcada para novembro de 2025 em Belém, é uma oportunidade histórica para colocar a Amazônia no centro da agenda climática global. 

Em documento intitulado Ampliando Grande Financiamento de Soluções Baseadas na Natureza para Proteger a Amazônia: Um Roteiro para a Ação, os signatários pedem à Presidência da COP30 que lidere a mobilização global de recursos públicos, privados e filantrópicos para garantir a proteção da maior floresta tropical do planeta e evitar que a Amazônia atinja um ponto irreversível de degradação. 

A urgência de proteger a Amazônia 
Com 6,5 milhões de km², a Amazônia abriga 13% das espécies conhecidas no planeta, 20% da água doce superficial e cerca de 47 milhões de pessoas — incluindo mais de 400 povos indígenas. Essencial para o equilíbrio climático global, a floresta amazônica armazena entre 150 bilhões e 200 bilhões de toneladas de carbono, o que equivale a 15 a 20 anos de emissões globais de CO₂.  

No entanto, a Amazônia enfrenta um momento crítico. Mais de 17% da floresta em território brasileiro já foi desmatada e 31% está degradada. A perda de mais 5% da vegetação pode levar a um ponto de não retorno, com a conversão irreversível da Amazônia em savana. Políticas econômicas agravam o problema: 89% do financiamento climático agrícola global é direcionado a práticas insustentáveis — e 30% do desmatamento anual ocorre em Florestas Públicas Não Destinadas, áreas altamente vulneráveis à grilagem. 

Ao mesmo tempo, o financiamento atual para a Amazônia é insuficiente. Segundo o Banco Mundial, são necessários US$ 7 bilhões anuais para proteger a floresta, mas na última década foram mobilizados apenas US$ 5,8 bilhões. Hoje, 3% do financiamento climático global é destinado a soluções baseadas na natureza para mitigação e 11% para adaptação, apesar do potencial dessas iniciativas para entregar até 30% da mitigação necessária até 2030.  

De forma geral, os autores recomendam o estabelecimento de um plano de ação claro para alinhar os fluxos financeiros com economias favoráveis ​​à natureza na Amazônia, incluindo a reorientação de subsídios e incentivos que estão destruindo a Amazônia, e exigindo rastreabilidade entre as principais cadeias de suprimentos desenvolvidas perto de áreas de alto desmatamento. Pedem também um compromisso global para combater economias ilegais transnacionais, o pagamento por serviços ambientais, o fortalecimento de salvaguardas e a implementação de uma abordagem baseada em direitos humanos, como segurança da posse da terra e inclusão de povos indígenas e comunidades locais. 

“Salvaguardar a resiliência da floresta no Antropoceno depende de dois imperativos: conservar pelo menos 80% do bioma amazônico e colaboração global para reduzir rapidamente as emissões de gases de efeito estufa com aporte financeiro adequado”, destaca a carta, que apresenta caminhos factíveis e em linha com os trilhos das negociações da COP30. "Proteger a Amazônia não é apenas uma questão ambiental, mas uma necessidade econômica e climática global. O investimento necessário é significativo, mas factível e infinitamente menor que os custos de permitir que este ecossistema vital entre em colapso", conclui o documento. 

Chamado à Presidência da COP30: um pacto global pela Amazônia 

As organizações civis signatárias solicitam que o Brasil assuma um papel de liderança na COP30, para estimular  uma coalizão que mobilize recursos, governos, bancos de desenvolvimento, empresas e grandes fundações, garantindo que o dinheiro chegue a iniciativas que mantenham a floresta em pé e fortaleçam as comunidades que vivem e cuidam dela.  

As recomendações-chave estão divididas em três eixos: 

  1. Financiamento para a Conservação – Fortalecer mecanismos como o Programa ARPA (Áreas Protegidas da Amazônia), Herencia Colômbia, Patrimonio del Perú e o Fundo Podáali para conservar 331 milhões de hectares, restaurar 600 mil km² e garantir repasses diretos a comunidades indígenas e locais. 

  1. Economia Verde e Inclusiva – Incentivar cadeias produtivas livres de desmatamento, como a Moratória da Soja e o programa de rastreabilidade da carne bovina do Pará. A iniciativa Inovação Financeira para Amazônia, Cerrado e Chaco (IFACC) já mobilizou US$4,6 bilhões para cadeias sustentáveis e pode servir de exemplo para novos compromissos. 

  1. Fortalecimento de Capacidades e Governança – Investir em tecnologia de monitoramento ambiental, capacitar governos locais e garantir o protagonismo de Povos Indígenas e Comunidades Locais (PICLs), com salvaguardas socioambientais e respeito às suas formas de gestão territorial. 

As organizações apelam para que o Brasil lidere a criação de uma coalizão global capaz de mobilizar os recursos necessários à proteção da Amazônia. Entre as medidas propostas, destacam-se: 

  • Lançar uma Declaração Global pela Amazônia, com metas claras para alinhar os fluxos financeiros a uma economia positiva para a natureza. 

  • Promover a criação do Tropical Forest Forever Facility (TFFF), com o objetivo de captar até US$ 125 bilhões para florestas tropicais até 2030. 

  • Estimular a atuação integrada de bancos públicos de desenvolvimento, filantropias e setor privado para apoiar a conservação, o uso sustentável e a restauração dos ecossistemas amazônicos. 

  • Garantir que povos indígenas e comunidades tradicionais tenham acesso direto aos recursos e que suas estruturas de governança sejam respeitadas e fortalecidas para exercerem a proteção da natureza e enfrentamento das mudanças climáticas. 

Organizações apoiadoras deste chamado à ação: 
Andes Amazon Fund | Science Panel for the Amazon – SPA | Conservation International – CI | The Field Museum | IPAM | Uma Concertação pela Amazônia | Rainforest Trust 

“A COP30 será um ponto de virada no debate de financiamento para a natureza. Financiamento para conservação, restauração e gestão sustentável de florestas tropicais é essencial para o combater à mudança do clima. Soluções financeiras inovadoras, como a proposta brasileira para o mecanismo Florestas Tropicais para Sempre, são prioridades para a presidência da COP30 em nosso mutirão global para acelerar a ação climática”, Ana Toni, Diretora Executiva da COP30 e Secretária Nacional de Mudança do Clima do Ministério de Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil. 

“Direcionar recursos financeiros substanciais e imediatos para a conservação da Amazônia precisa ser reconhecido como uma estratégia climática urgente para evitarmos as piores consequências do aquecimento global”, destaca Rachel Biderman, Vice-presidente Sênior para as Américas, uma das organizações responsáveis pela elaboração das recomendações. "A conservação da Amazônia deve ser um dos grandes resultados da COP30. A solução está ao alcance da presidência brasileira da COP30 e pode começar a ser implementada na conferência de Belém”, completa.  

"A união de esforços para garantir recursos financeiros para soluções baseadas na natureza é essencial para que a Amazônia gere prosperidade e bem-estar a todos seus habitantes com a floresta em pé.", Livia Pagotto, Uma Concertação pela Amazônia. 

“A primeira COP do clima a ser realizada na maior floresta tropical do mundo deve assumir compromissos concretos de apoio financeiro e político para que a Amazônia e as demais florestas tropicais do planeta continuem a armazenar e capturar carbono com segurança. É fundamental fortalecer os guardiões da floresta — os povos indígenas e as comunidades locais — não apenas pelo futuro deles, mas por toda a vida na Terra. A Rainforest Trust tem orgulho de ajudar a mobilizar financiamento filantrópico privado para esses esforços — agora o setor público deve fazer sua parte, especialmente os países mais ricos”, disse James Deustch, CEO da Rainforest Trust. 

“O Brasil tem a oportunidade histórica de liderar uma transformação global. É hora de reconhecer o enorme potencial que a natureza tem para proteger o planeta. E, além de mobilizar recursos, precisamos garantir que eles cheguem aos territórios de quem realmente protege a floresta. A COP30 pode ser o marco de uma nova era de cooperação internacional, com a Amazônia no centro e no coração do planeta”, destaca Juliana Simões, vice-gerente da Estratégia Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais, da The Nature Conservancy (TNC) Brasil. 

 

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