Campanha pede criação de RESEX para proteger manguezal e legado cultural em Pernambuco

junho 28, 2025

Área abriga o último grande manguezal não urbano do estado e sustenta a vida de mais de 2 mil pescadores e pescadoras artesanais. 

Rio Formoso (PE), 28 de junho de 2025 – Em um dos territórios mais ricos em biodiversidade marinha do litoral sul de Pernambuco, o futuro das comunidades pesqueiras e do último grande manguezal não urbano do estado permanece indefinido. Na véspera do Dia Internacional da Pescadora e do Pescador, organizações da sociedade civil e lideranças tradicionais de seis comunidades pesqueiras e de um território quilombola renovam seu apelo pela criação da Reserva Extrativista (RESEX) do Rio Formoso, uma demanda que perdura há mais de 15 anos. 

A proposta, que abrange aproximadamente 2.240 hectares entre os municípios de Sirinhaém, Rio Formoso e Tamandaré, busca garantir a conservação de um ecossistema fundamental para o equilíbrio climático, a produção de alimentos e a continuidade cultural das comunidades locais. Atualmente, cerca de 2.355 pescadores e pescadoras artesanais dependem diretamente do mangue, com forte presença de mulheres na linha de frente da mobilização. 

“Eu venho de uma família tradicional da pesca. O meu pai, a minha mãe, os meus avós eram todos pescadores. Fui criada nessa cultura. E hoje ela é importante para mim porque é dela que eu sobrevivo. Se eu não lutar pelo mangue sadio, como é que eu vou sobreviver?”, pergunta Arlene Maria, pescadora e liderança de Sirinhaém. “Minha mãe sempre disse que ia pescar grávida de mim. Então acho que é desde o ventre que me identifico com a pesca. Jamais vou mudar de profissão.” 

SUPER ECOSSISTEMA MARINHO
O mangue da região da Resex Rio Formoso é um dos poucos ainda preservados fora de áreas urbanas no estado e forma um super ecossistema marinho. O ecossistema da região é composto pelo manguezal, um ambiente marinho costeiro, plataforma continental, paleo canais, quebra da plataforma e cânions. Todos esses sistemas são dependentes e abrigam vida interdependente. O manguezal funciona como um berçário da vida marinha onde peixes, crustáceos e moluscos de reproduzem.  

“A criação da RESEX do Rio Formoso é urgente para garantir a proteção legal de um território que já é cuidado coletivamente pelas comunidades tradicionais há décadas. Existem espécies em risco na região como peixe Mero, cavalo-marinho e peixe-boi que precisam da região protegida para reprodução e sobrevivência”, explica Nátali Piccolo, diretora de Conservação Marinha e Costeira da Conservação Internacional (CI-Brasil), organização que apoia a proposta. 

A conservação do manguezal afeta também o clima já que o ecossistema armazena até quatro vezes mais carbono que florestas tropicais. Eles também funcionam como barreira natural da costa contra tempestades e ondas e funcionam como um filtro natural de água. 

Culturalmente, a importância dos manguezais também merece destaque. Nele se concentram espécies como o caranguejo-uçá, o siri, o aratu e a ostra, fundamentais para a pesca artesanal e para a culinária tradicional da região. 

“Eu vivo do que o mangue dá: crustáceo, peixe. O fungi é um prato indígena com influências africanas feito com massa de mandioca e sempre acompanhado de uma mariscada: marisco, ostra, siri, camarão, tudo isso vem do mangue. Mas para preparar isso, ele precisa estar limpo e conservado. A RESEX é importante para garantir esse sustento. Sem mangue limpo, não tem mariscada. E sem mariscada, não tem fungi”, afirma Marô do Fungi, cozinheira e pescadora de Rio Formoso. 

UMA CAMPANHA A SERVIÇO DO TERRITÓRIO
Lançada neste mês, a campanha #SemMangueSemBeat marca uma nova fase da mobilização. Por meio de uma plataforma online, a iniciativa compartilha informações, cartas de apoio e ferramentas para que qualquer pessoa possa se somar à defesa do território. Um dos principais chamados da campanha é para que a sociedade envie mensagens à governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, pedindo que ela manifeste apoio à criação da unidade. 

A campanha empresta seu nome do movimento Manguebeat, marco da cena cultural brasileira dos anos 1990 que teve em Chico Science, Fred 04 e outros artistas seus principais expoentes. O movimento transformou o mangue em símbolo de resistência e criatividade. Ao recuperar essa referência, a mobilização liderada pelas comunidades pesqueiras reforça que a defesa do manguezal é também uma defesa da identidade cultural de Pernambuco.  

QUEM JÁ MANIFESTOU APOIO 
Mais de 50 organizações, instituições e pessoas públicas enviaram cartas de apoio à articulação #ProResexdoRioFormoso que lidera a campanha, dentre elas: Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), SOS Mata Atlântica, Fundação Grupo Boticário, Instituto Baleia Jubarte, Painel Mar e Instituto Arayara. O Deputado Federal Túlio Gadelha, e a Deputada Estadual Rosa Amorim, também enviaram cartas de apoio à criação da Resex.

 

Contatos para imprensa

Inaê Brandão – Coordenadora de Comunicação
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Tel: +55-95-98112-0262