Consulta pública discute proteção do último manguezal conservado de Pernambuco
maio 5, 2025
Reunião acontece nesta terça-feira, 06 de maio, e marca etapa decisiva para a criação da Resex do Rio Formoso.
Tamandaré - PE, 02 de maio de 2025— Na próxima terça-feira, 06 de maio, às 9h, será realizada a consulta pública para a criação da Reserva Extrativista (Resex) do Rio Formoso. A reunião acontecerá no auditório do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste (CEPENE/ICMBio), em Tamandaré, litoral sul de Pernambuco.
“A proposta da Resex é fruto de mais de uma década de mobilização de comunidades tradicionais pesqueiras e quilombolas dos municípios de Tamandaré, Rio Formoso e Sirinhaém, que dependem diretamente dos recursos naturais do manguezal, dos estuários e dos rios da região”, explica Nátali Piccolo, Diretora de Conservação Marinha e Costeira da Conservação Internacional. Além de proteger um território de grande valor ecológico — com conexão entre estuários, recifes de corais e áreas de reprodução de espécies marinhas —, “a Resex tem como objetivo garantir a gestão sustentável do território, o direito das populações locais de manter seus modos de vida, baseados na pesca artesanal, na agricultura familiar, no turismo de base comunitária e na cultura quilombola”, completa Piccolo.
“Fazemos um trabalho de conservação do meio ambiente no nosso estuário do Rio Formoso, cuidando dos manguezais que sustentam a vida por aqui. Muitas mulheres pescadoras são chefes de família — muitas vezes sozinhas — e é da pesca que tiram o sustento dos seus filhos”, relata Cícera Batista, liderança da colônia de pescadores Z-07 de Rio Formoso. A área proposta abrange 2.615 hectares de manguezal, considerados o último remanescente não urbano e conservado desse ecossistema em Pernambuco. “Por isso, queremos a criação da RESEX, para continuar conservando, garantindo nosso sustento, nossa autonomia e o futuro das nossas famílias”, conclui.
A consulta pública é uma etapa legal e essencial no processo de criação de unidades de conservação no país. O encontro contará com a participação de representantes das comunidades locais, pescadores, marisqueiras, organizações da sociedade civil e instituições parceiras. A expectativa é de que a Resex do Rio Formoso passe a integrar o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), fortalecendo a conservação do clima, da biodiversidade e os direitos territoriais das populações tradicionais.
SUPER ECOSSISTEMA MARINHO
A região abriga um dos mais importantes complexos ecológicos do estado: a conexão entre manguezais, estuários e recifes de corais até a quebra da plaforma, e forma um verdadeiro “super ecossistema marinho”, que serve de berçário para inúmeras espécies. Entre elas, o peixe-boi, o cavalo-marinho e o mero — vulneráveis ou ameaçadas —, além de caranguejos, moluscos e peescados que sustentam a pesca artesanal e a soberania alimentar das comunidades locais.
O território também se destaca pelo acúmulo de conhecimento ecológico tradicional, como destaca a pesquisadora Beatrice Padovani, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE/PELD TamS e Meros do Brasil): “A gente encontrou aqui um conhecimento riquíssimo por parte da comunidade que realiza pesca e coleta, conhecimentos que têm norteado as pesquisas e ajudado no levantamento de várias hipóteses e estudos. Tudo mostra que a integração entre conhecimento de quem pesca e o conhecimento científico é um patrimônio que também precisa ser conservado”.
Além de sua importância ecológica e social, os manguezais cumprem um papel vital no enfrentamento da crise climática. Esses ecossistemas são grandes reservatórios de carbono — o chamado “carbono azul” — e funcionam como barreiras naturais contra tempestades e a erosão costeira, protegendo populações e cidades do litoral pernambucano.
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