Cientistas brasileiros completam levantamento inédito de peixes em cadeia de montanhas submarinas. A região é pleiteada pelo país perante a comunidade internacional

março 10, 2015

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Cientistas brasileiros completam levantamento inédito de peixes em cadeia de montanhas submarinas. A região é pleiteada pelo país perante a comunidade internacional

 

O estudo, publicado semana passada na revista científica PLoS ONE, traz o maior levantamento de peixes jamais realizado nas montanhas submarinas do Atlântico Sul

Rio de Janeiro, 11 de março de 2015 —

Foram quase duas décadas de pesquisas na Cadeia Vitória-Trindade, mais conhecida por abrigar em seu extremo leste o complexo insular de Trindade e Martin-Vaz, distante 1.200 quilômetros de Vitória, no Espírito Santo. O projeto envolveu 22 pesquisadores de 12 universidades brasileiras e uma norte-americana, tendo contado com apoio do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação, do Ministério da Educação e da Marinha do Brasil. Para explorar essa vasta e remota região foram realizados mergulhos com uso de misturas gasosas e utilizados robôs submarinos munidos de câmeras, além de barcos pesqueiros da frota comercial. Nada menos que 211 espécies de peixes foram registradas no topo das 10 principais montanhas submarinas, que se alinham desde o continente até as ilhas. O entorno das ilhas também foi pesquisado e revelou 173 espécies. O principal produto desse enorme esforço é um catálogo fartamente ilustrado e documentado, disponível para download no site da PLoS ONE (1). O líder do estudo, Hudson Pinheiro, doutorando na Universidade da Califórnia, ressaltou que 191 espécies representam novos registros para a Cadeia Vitória-Trindade. “Agora compreendemos melhor os processos evolutivos que resultaram em espécies endêmicas nas ilhas e nas montanhas submarinas. Em função de apresentarem topos relativamente rasos, as montanhas funcionam como trampolins para as espécies ao longo de vastas extensões de oceano aberto”, declarou Pinheiro.

Conhecer a topografia e os ecossistemas, de forma a garantir sua exploração racional, são premissas centrais da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM). A Convenção, da qual o Brasil é signatário, assegura a Zona Econômica Exclusiva de 200 milhas. Em 2004 o Brasil apresentou uma proposta de expansão da Plataforma Continental Jurídica (2)à Comissão sobre Limites da CNUDM, para além das 200 milhas, na Foz do Amazonas e na região sul. O pleito brasileiro também incluiu alguns montes da Cadeia Vitória-Trindade, mas foi devolvido para que o país adequasse a proposta e a justificativa. Segundo Rodrigo Moura, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e co-autor do estudo, “os resultados das pesquisas agregam valor ao pleito brasileiro”. Segundo o pesquisador, “trata-se de uma contribuição que demonstra, internacionalmente, a soberania do Brasil no conhecimento sobre a biodiversidade da região”.

Apesar das boas notícias, o Monte Davis, uma das áreas cuja jurisdição ainda não está plenamente estabelecida, tem sido explorado para a produção de fertilizantes (3). O entendimento dos pesquisadores é que dragar um recife riquíssimo e com espécies únicas para produzir fertilizantes é completamente irracional. “Não podemos repetir os graves erros cometidos na ocupação da Amazônia na chamada ‘Amazônia Azul’. Ocupar não precisa ser sinônimo de destruir”, afirma Moura. “A utilização sustentável da biodiversidade marinha, através da pesca controlada e da biotecnologia, é um caminho muito mais racional”, completa o pesquisador.

A criação de uma Reserva da Biosfera Marinha na Cadeia Vitória-Trindade foi recentemente proposta à UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura). Por outro lado, o processo de criação de áreas de proteção, que deveria ser mais ágil, está estagnado no Ministério do Meio Ambiente desde 2012. Além da mineração, a pesca excessiva em todos os montes submarinos e nas ilhas preocupa os autores do estudo, que já reportam risco de extinção e declínio de várias espécies de peixes.

 

Referências

(1) http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371%2Fjournal.pone.0118180

(2)http://www.un.org/depts/los/clcs_new/submissions_files/submission_bra.htm

(3) http://revistapesquisa.fapesp.br/2012/07/16/fertilizante-marinho/

 

Contatos para mais informações:

ESPÍRITO SANTO: Prof. Dr. Jean-Christophe Joyeux, Universidade Federal do Espírito Santo, coordenador do projeto, (27) 4009-7791, jcj.ufes@gmail.com

RIO DE JANEIRO. Prof. Dr. Rodrigo Leão de Moura, Universidade Federal do Rio de Janeiro, (21) 99609-2724, moura.uesc@gmail.com

SANTA CATARINA. Prof. Dr. Sergio Floeter, Universidade Federal de Santa Catarina, (48) 9164-0224, sergiofloeter@gmail.com

PARAÍBA. Prof. Dr. Ronaldo Bastos Francini-Filho, Universidade Federal da Paraíba, (83) 9952-8622, rbfrancinifilho@gmail.com

PERNAMBUCO. Profa Dra. Beatrice P. Ferreira, Universidade Federal de Pernambuco, (81) 9608-3982, beatrice@ufpe.br e Dr, Thiony Simon, thionysimon@gmail.com

EUA. Hudson Pinheiro, University of California Santa Cruz and California Academy of Sciences, htpinheiro@gmail.com

 

Artigo completo (inclui mapa):

http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371%2Fjournal.pone.0118180

Link do vídeo no youtube: https://www.youtube.com/watch?v=ZsV3AkDvvvE&feature=youtu.be

Link para acessar o catálogo ilustrado das espécies:

http://journals.plos.org/plosone/article/asset?unique&id=info:doi/10.1371/journal.pone. 0118180.s001

Imagens adicionais, inéditas:

https://www.dropbox.com/sh/b507wvbep2u7yka/AAAecYzsXJuXro1I--eDdjw7a?dl=0

 

Outros atores-chave na região da Cadeia Vitória-Trindade:

Ministério do Meio Ambiente

Ministério da Pesca e Aquicultura

Ministério de Minas e Energia, DNPM

Reserva da Biosfera da Mata Atlântica

Fundação SOS Mata Atlântica

Oceana

Conservação Internacional

Voz da Natureza

 

Contatos para imprensa

Inaê Brandão – Coordenadora de Comunicação
ibrandao@conservation.org
Tel: +55-95-98112-0262